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"Conheço, da poesia de Antonio Calloni, sua raiz profunda, o caminhar da frase rompendo o ar e desabrochando em copa de mil leques. Conheço bem a busca e o desbravar de palavras exatas que chicoteiam uma surpresa e deslocam a vista, a alma e o coração para um novo sentido. Há, na poesia de Calloni, não o acanhamento, a dúvida, mas a memória de um infante de dezembro 'criança amoral e vigorosa', explícita em A namorada e Historieta sobre a maldade, como também o infante revestido em armadura de 'cavaleiro homem' resgatano a calibre 20, o interno oceano, a Toscana até chegar ao masculino pulsante, vislumbrando o desejo, a femêa, a carne. 

Sua poética é, assim, a depositária de uma imagem ação transcorrendo num fluxo contínuo de emoção aguda, despudorada, mesclando a nudez e a profunda delicadeza, ainda que em rápidos flashs ou anti-conclusões como em A rosa do oriente, O barco, Melodia e Tempo-será, onde '... só a inocência assimila a surpresa/ a vivência a prevê/ a ironia a acovarda e a mulher dá à luz."

Há, também, o ritmo nervoso e quase desesperado de A louca de longe jorrando no papel um homem aprendiz: "Dá-me uma indicação escrita, dá-me um pouco de vento... dá-me pão e um lugar para ficar de joelhos... Por Deus, ajusta meu olho, louca, escolha minha roupa, e eu irei menos defeituoso ao teu encontro."

 

Os infantes de dezembro, primeiro livro de Antonio Calloni, é um meticuloso reinventar, reordenar, comungar o coração e a razão num texto requintado por sua estrutura firme e direta. Há, nele, a exposição resoluta de imprimirem cada verso, em cada frase o apreço pela palavra, deixando para nós, os leitores, um rastro fiel e orgânico não do ato poético em si, mas da experiência vivida e por viver.

O que Calloni nos apresenta, nessa sua estreia literária, é a vida repleta de fantasias, mistérios, alegrias e desejos tão somente como um estar disponível para a prática da comunhão entre o eu e o próprio viver. Como bem diz o vendedor Antonio de A pequena loja de poesias: '...Gosto da poesia que eu concordo, mas gosto mais daquela que tem concordamento torto... aquela que desmente, me tira do vício e me trata como criança... Gosto daquela que me cutuca nas costas e quando eu me viro pra ver ela já se foi, rindo da minha cara de urso...'. A poesia deste também Antonio ri, como a vida."

 

- Ilse Rodrigues Castro

Os infantes de dezembro

  • Antonio Calloni

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